Mergulhado na penumbra da madrugada sem estrelas
Ouvindo o silvo moribundo do silêncio
Um pensamento quebra meus devaneios
E, com o tablet em minhas mãos,
Testo o touchscreen de minha poesia!
A folha em branco é um desafio:
Que hei eu de escrever
Se não me ocorre nenhuma ideia
De galanteios, floreios românticos,
De paixonite aguda,
De sofrimento sem quê nem pra quê?
Que há de expressar o leve toque
Que imprimo à superficie serena do tablet
Se esqueci as lições de métrica
Que eram meu alento em criança?
Que rimas hão de florir meus sentimentos
Se o que sinto está impregnado
Do bafejo selvagem e solto
Da poesia pós 1922?
Na jovem madrugada sem estrelas,
Mergulhado na mais sombria penumbra
Meus dedos nervosos escrevem
Na superfície (in) sensível do tablet
Os versos que cortam o silêncio
Que se esfacela, moribundo,
Na íris do horizonte plúmbeo.
Mergulhados, na madrugada sem luz,
Meus dedos fabricam
O meu dormido pão diário!
by Manoel da Silva Botelho
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